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Ayurveda

हिताहितं सुखं दुःखमायुस्तस्य हिताहितम्|

मानं च तच्च यत्रोक्तमायुर्वेदः स उच्यते||४१||

Ayurveda é a ciência onde os estados de felicidade, juntamente com o que é bom ou ruim, saudável ou não para a vida, e as dimensões da vida em si são descritos.

Charak Samhita, Sutra Sthana capítulo 1. Longevidade

Audiodescrição - Introdução à AyurvedaMarise Berg
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Toda matéria é permeada pela impermanência. Pensamos em vida e morte como um ciclo único na vida. Nascemos quando nascemos e morremos quando morremos. A nível celular, os ciclos de nascimento e morte se repetem incessantemente. Obtemos da natureza os nutrientes, oxigênio, luz solar, alimentos e estímulos sensoriais e os transformamos em células, pensamentos e emoções. Geramos vida a partir de energia, continuamente. Somos biodinâmicos mas, finitos. Apesar de sofisticados sistemas de regeneração, o envelhecimento é inexorável e seremos reivindicados para nos tornarmos “adubo” para o planeta que deixaremos de herança para as futuras gerações. Também somos biodegradáveis.

Para muito além das células, cada ser é constituído por um conjunto de energias exemplificadas pelo arquétipo dos 5 elementos - ar, espaço, fogo, terra e água. Na medida em que estes se combinam, em proporções únicas em cada indivíduo, forma-se a prakruti – os doshas Vata, Pitta e Kapha. Esta constituição define as nossas tendências naturais, positivas ou não, constituindo a nossa visão de mundo e comandando todas as nossas funções vitais, a mente e as emoções. Estas, experiências físicas derivadas dos pensamentos, influenciam os ritmos dos sistemas biológicos e a comunicação celular. “O corpo sente com a mente e a mente sente com o corpo”. Outras três energias são consideradas as gunas, os doshas da mente: satwa, a harmonia, senso unitivo e de pertencimento, compaixão, não-violência e propósito; rajas, o dinamismo, a vitalidade, movimento e calor, mudança, senso de individualidade; e tamas, a densidade, inércia, estagnação, o recolhimento obtuso, a sonolência. É dito que o estado natural da nossa mente é predominantemente satwa e que as outras gunas são evocadas e agravadas de acordo com o nosso percurso na vida, podendo se desequilibrar e carimbar a mente com os seus aspectos negativos. Por meio da dieta, meditação e estilo de vida é possível pacificar rajas e tamas, permitindo o predomínio natural de satwa. Toda essa rede de matéria densa e sutil é permeada por prãna, uma energia vital inteligente que pulsa e vibra concedendo a vida.

O elemento sustentador dos processos de transformação é o fogo, ou agni, que se manifesta fisicamente na digestão. Composto de enzimas, ácido clorídrico, mucosa, bile, motilidade e uma vasta microbiota, agni é a inteligência que decompõe os alimentos em minúsculas partículas, remonta em estruturas densas e sutis - o que chamamos de metabolismo - e excreta os metabólitos desse processo. Com fogo potente, sentimos fome adequada, os nutrientes chegam às células e pensamentos e os dejetos são eliminados. Os tecidos, órgãos e sistemas são tonificados, dando suporte à expressão dos nossos genes e oferecendo combustível para a nossa consciência, nossos sonhos e talentos. Temos visão, discernimento, vigor, entusiasmo, coragem, boa imunidade, longevidade e bala, resistência. Com fogo insuficiente, são geradas biotoxinas, chamadas de ama, que, como uma fumaça densa, obstruem a microcirculação e os canais energéticos, por onde circula a energia vital. Dessa forma, impedem a comunicação celular, a correta nutrição dos tecidos, causam embotamento mental, envelhecimento precoce e emitem sinais de perigo, demandando reação da imunidade.

O ritmo da regeneração versus a degeneração natural decorrente do uso (que pode se dar com sabedoria ou não)  depende da genética, das emoções, do estilo de vida e do ambiente.

O estilo de vida, que inclui a alimentação, o sono e o uso adequado dos sentidos, tem grande influência na expressão dos nossos doshas. Sob estímulos favoráveis, as células respondem de acordo com a sua natureza. Sob indiferença ou estímulos e hábitos nocivos, as respostas podem ser autodestrutivas. A contradição biológica e mental, um descompasso entre o pensar, sentir e agir, chamada vikrutti, se expressa nos desequilíbrios orgânicos e mentais, culminando em doenças. É o que faz um diabético optar por doces, uma alcoólatra por álcool e um obeso por sorvete, mesmo sabendo que estas são escolhas deletérias. Esse ciclo vicioso, que se inicia na ignorância sobre o nosso real potencial, gera aflições profundas, conscientes ou não. Logo desejamos obter algo externo que estabilize a nossa energia, impulsionando ações inconsequentes. Desejamos ser felizes, mas cultivamos causas e condições para a infelicidade. Ao final, colhemos frustração, culpa e adoecimento. Para reverter esse círculo vicioso em virtuoso, é preciso desenvolver uma mente capaz de acessar a nossa sabedoria interna (budhi), que é una com a sabedoria primordial onipresente, que permeia toda existência. Viver em vikruti é como se fôssemos uma onda do mar que se esquece que é feita de água. Sofremos angustiados pela falta de senso de pertencimento, de sentido, agindo desgovernadamente, enquanto podemos nos tornar autoconscientes, sapiens, nos reconectando com a fonte primordial de consciência, substância e energia (Brahm), de onde se origina toda a matéria, sutil e densa, representada pelos 5 elementos.

Os estímulos oferecidos pelo ambiente, especialmente a luminosidade do sol que rege a duração dos dias e noites, as estações do ano e fases da vida, interagem diretamente nos hábitos de todos os seres vivos. No verão luminoso, quente e úmido, a nossa energia é efervescente. Temos vontade de interagir, de nos expor, desejamos alimentos refrescantes como as saladas e água de coco. No inverno o frio, vento e a secura trazem tendência à melancolia, rigidez articular, sono instável e ressecamento da pele. Temos menos energia para nos exercitar e desejamos alimentos quentinhos como sopa. É a cronobiologia –  fenômenos biológicos em correspondência com os ciclos ambientais – o microcosmo que reflete o macrocosmo. Para os sábios da Ayurveda, não somos parte da natureza, somos a natureza. O conhecimento sobre as rotinas diárias (dynacharya) e sazonais (ritucharya) foi oferecido para nos guiar a prevenir e curar doenças e promover a saúde.

Mas a saúde não é o nosso objetivo final. Os desejos mais nobres, intrínsecos à nossa condição humana são os quatro purusharthas: a liberdade, a prosperidade, a expressão dos talentos e virtudes naturais (que inclui as nossas limitações). E, enfim, a felicidade – um estado de florescimento natural, uma alegria sustentável, harmoniosa e consciente, não condicionada. A saúde é um meio para conquistá-la.

Até assistir a uma palestra sobre Ayurveda (a ciência da vida, em sânscrito), nunca tinha pensado de onde vinham e para onde iam as minhas células.

Conceitos muito simples e básicos sobre o nosso funcionamento e a nossa origem na natureza acenderam uma luz que nunca mais pude deixar de seguir. Na visão holística, o todo não se resume à soma das partes e a saúde depende do equilíbrio dinâmico e indissociável do corpo físico, da vitalidade, da mente e da consciência, todos juntos em sintonia e regidos pelos ritmos da natureza que, nesse planeta, é regida pela força e brilho do sol.

Esse conhecimento vem sendo transmitido entre gerações por mais de 2.500 anos. Sempre esteve disponível para nós, que, apressados e distraídos, nos desconectamos dessa sábia ciência das coisas da vida.

Aqui nesse site, vou oferecer informações para te inspirar e despertar sua capacidade de fazer escolhas favoráveis, tanto de alimentação quanto de estilo de vida; além do manejo das emoções e da energia vital, com objetivo de bem estar físico, mental, social e espiritual, não somente ausência de doenças.

Sejam bem-vindos. Namastê.

नगरी नगरस्येव रथस्येव रथी यथा| स्वशरीरस्य मेधावी कृत्येष्ववहितो भवेत्||१०३||

Como o gestor de uma cidade, um cocheiro no comando de sua carruagem, um homem sábio deve estar sempre vigilante no cuidado de seu próprio corpo.

Charak Samhita, Matrashiteeya Adhyaya, Sutra Sthana capítulo 5

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