Entrei na Nutrição inspirada pelas palavras doces e compassivas do meu Professor Thich Nhat Hanh.
O querido Thai, como chamamos o 46º monge de uma linhagem que remonta aos tempos do Buda Shakyamuni, me falou de interconexão e de carma. Pra uma capricorniana pitta (dizem que é uma combinação racional...) isso bastou. Nem foi preciso ler artigos científicos, decorar as estatísticas, vasculhar a conta corrente do FDA, nem observar clandestinamente campos de concentração de animais.
Carma quer dizer basicamente: aqui se faz, aqui se paga – rápido e na mesma moeda, tipo efeito bumerangue. Toda ação gera uma reação. Assim como toda omissão gera impactos. A vida acontece em fluxo, em permuta dinâmica. Todos os elementos do planeta estão indissociavelmente conectados. Respiramos o oxigênio expirado pelas plantas que respiram o Co2 expirado por nós. Todas as substâncias do planeta são provenientes da mesma matéria prima que “nasce”, amadurece, decai, “morre” e é reciclada novamente, reiniciando o ciclo. Já parou pra pensar que toda gota de água do planeta não vai a lugar nenhum fora do planeta? A água flui, evapora, forma nuvens e chove sobre a terra novamente. Ela só dá uma voltinha bem rapidinha e retorna para reiniciar o ciclo, fluido.
Para não soterrar os alunos sob o peso da responsabilidade universal, o Thai também dá as “boas notícias” na sequência dos ensinamentos: a sacralidade da nossa existência, a real possibilidade de ser feliz aqui e agora apesar das adversidades, a neuroplasticidade (a capacidade de treinar pensamento positivo, compaixão, generosidade, liberdade), a impermanência (a mudança é possível!), a possibilidade de gerar méritos e desfrutar de uma vida com significado, fertilidade, abundância, satisfação e paz.
Nesse percurso aprendi que a alimentação adequada e saudável é um direito humano básico e vejo no consultório diariamente os prejuízos humanos de uma pandemia de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) e obesidade baseadas em um sistema alimentar adoecedor. Pela primeira vez na história, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, há abundância de oferta de alimentos. O “paradoxo” é essa fartura ter gerado uma pandemia de doenças crônicas debilitantes. Porque quantidade não significa qualidade. Mas, quer saber, nem tudo o que está disponível é adoecedor. Temos todas as opções alimentares à disposição fartamente. O que precisamos é, como consumidores poderosos, fazer escolhas conscientes a partir da reorientação dos nossos valores, desejos e comportamentos individuais e coletivos.
O vegetarianismo tem se mostrado (cientificamente e na vida real) o sistema alimentar com o poder de prevenir e reverter DCNT e obesidade, além de preservar o planeta e contribuir para reverter os efeitos do aquecimento global.
Pensar que cada ação (ou omissão) minha tem impactos na coletividade, que minha vida é sagrada e mereço viver em um ambiente saudável, próspero e feliz me trouxe a noção de responsabilidade global, de co-participação em basicamente tudo. Porque não tem graça nem seria viável brincar sozinha, então, desejo tudo isso, não só para mim, mas para todos nós.
Nós somos a razão de ser do “mercado”. Este (leia-se a mídia sustentada pelas indústrias) nasce e prospera da decisão de compra dos consumidores (olha nós aí!). Se não queremos, por exemplo, propagandas na televisão sobre refrigerantes e afins destinadas ao público infantil, precisamos simplesmente deixar de comprar, arrancando as raízes do sistema atual de produção de doenças alimentares e ambientais. Veja, não precisamos de verba, de passeatas, da ação do governo, do exército nem do sobrenatural. Tornar-se um consumidor consciente é uma atitude compassiva, ecológica, saudável, e também política ao alcance imediato de todos nós!
Consciência começa com conhecimento. Meu caminho foi pela espiritualidade. Quem quiser saber mais sobre o meu Professor pode acessar o www.sangavirtual.blogspot.com.br.
Quem precisa de dados científicos, pode assistir aos inúmeros documentários disponíveis sobre escolhas alimentares e seus impactos no nosso bem estar e do planeta, começando pelo What The Health depois pelo Cowspiracy, Muito além do peso, Okja, Feed up, pode ler o The China Study, enfim, a lista é extensa, muitos conteúdos são gratuitos e estão ao alcance agorinha.
O Prem Baba diz que podemos viver, durante algum tempo, anestesiados pelo menos até o momento que o carma bater à nossa porta. E esse efeito pode surgir de várias maneiras: na forma de uma perda, de uma doença, uma frustração, um acidente, ou até mesmo como uma paixão. Chega um momento em que a vida traz um desafio que faz com que você queira se mover.
É só uma questão de tempo. E cada um tem o seu. O que posso fazer é te convidar. Esse é o meu trabalho e a motivação da minha vida. Sonho (e trabalho sistematicamente) para mudar o mundo pela educação nutricional Se quiser vir, “tamo junto”. Eu, você e uma galera que se importa. E age. Muda e impulsiona mudanças.
Por fim, lembro de uma citação (infelizmente não me lembro o autor) sobre o tempo. Ele não passa, é infinito. Quem passa somos nós, perecíveis, falíveis, mas, ainda assim divinos, criativos e dotados da habilidade de fantasiar e construir mundos baseados em sonhos.
Que sonhos estão te movendo?
Vamos sonhar juntos?
Marise Berg – escutadeira, jardineira, cozinheira e educadora. O mercado chama isso de Nutricionista.
O filme What the health está disponível em português no Netflix.
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